Dá um nó na garganta aquela sensação de ter cobrado pouco e só ter caído a ficha depois que a cliente já foi embora, né? Dá ou não dá uma “bad” lembrar como aquela peça foi trabalhosa de fazer, mas, como já havíamos combinado o preço antes, não podemos cobrar mais na entrega? Só nos resta aceitar: saímos perdendo outra vez!
Por isso, neste post, muito além de ensinar a calcular valores, minha intenção é que possamos mudar nossa mentalidade para alcançar um estado de autoconfiança profissional que nos permita cobrar sem temer. E para chegarmos neste nível de segurança, apenas uma coisa se faz necessária: informação!
Ao longo desse texto vamos aprender a montar uma Tabela de Valores do Atelier. Ela deverá ser pendurada em nosso local de trabalho, com letras garrafais e coloridas, para que os clientes também possam ver e compreender que nosso trabalho não é de graça, não!
Cobranças concretas X Cobranças abstratas
Existem coisas que o dinheiro não compra. Para elas e todas as outras, existe um jeito de ser cobrar! Hahahaha. O que estou querendo esclarecer é que precisamos separar as cobranças concretas, tais como base salarial, horas trabalhadas, valor do material etc. Das cobranças abstratas, que seriam o design de sua arte, a personalidade de suas ideias, aquela experiência de anos.
De antemão, saiba que ambas podem (e devem!) ser cobradas. As cobranças concretas são mais fáceis de colocar em números e de fazer contas, portanto devem ser calculadas primeiro. Depois, acrescentaremos a porção que desejarmos das cobranças abstratas, que cada profissional deve determinar o quanto quer cobrar em cima.
Calculando cobranças concretas…
Por hora de trabalho:
A primeira coisa que devemos fazer é determinar qual o valor de nosso salário mensal de costureira ou bordadeira. Um bom parâmetro é uma tabela liberada pelo SINE, que considera a experiência do profissional e o porte da empresa onde se trabalha.
Ache na tabela qual opção salarial mais se enquadra com seu perfil profissional e divida este salário pelos seus dias trabalhados no mês e, depois, pelas horas no dia. Se você for uma costureira júnior trabalhando em uma empresa de porte médio, seu salário base seria de R$ 1413,48. Trabalhando 20 dias no mês, cada dia de seu trabalho valeria R$1413,48 divididos por 20, que é igual a R$ 70,67. Depois, temos que dividir o valor diário pelo número de horas trabalhadas – 8 horas. Logo, dividiremos R$ 70,67 por 8, que daria RS 8,83. Lembre-se que todos os valores usados nesta conta são um exemplo, mas o raciocínio matemático é este aí!
Pelo material:
Caso a cliente leve o material, nada deve ser acrescido ao preço. Mas, quando somos nós a fornecer o material, isso também deve ser cobrado junto, incluindo frete caso tenha sido comprado pela internet, despesas de transporte ao sair para comprar o material e cada aviamento utilizado.
Gastos fixos:
Se seu negócio for em casa, fica mais difícil mensurar esses valores, mas muitas profissionais pagam aluguel, energia, água, condomínio etc. Se este for o seu caso, tem que juntar tudo e fazer a mesma conta que fizemos para a base salarial. Outro gasto fixo extremamente importante é com manutenção de equipamentos. Por último, aqueles gastos que ocorrem de acordo com a demanda dos projetos, tais como determinada cor de linha que acabou, aquela agulha fininha de passar miçanga, o giz de alfaiate, enfim.
Localização:
Este ponto é em parte concreto e em parte abstrato. Se refere à localização de seu atelier que pode aumentar os gastos fixos, porém, esta mesma localização vai determinar se podemos cobrar ainda mais pelos nossos serviços, considerando o poder aquisitivo da clientela ao redor. Se montarmos nosso atelier em um bairro nobre, teremos mais gastos fixos, porém, poderemos cobrar um pouco mais. Caso trabalhemos em um bairro de renda mais baixa, nossa cobrança será apenas baseada no que já foi mostrado acima, sem poder aumentar além. E, principalmente, sem precisar diminuir! Olha lá, hein?!
Concorrência:
Aí na sua cidade existe alguma costureira ou bordadeira tão boa quanto você? Se você for a melhor na sua área, terá mais liberdade para ditar o preço. Porém, se você ainda estiver construindo o seu nome nesta área, uma boa estratégia é baixar um pouquinho o preço para conquistar mais clientes, depois passar a cobrar mais! Pesquise a concorrência e mensure a partir desses números quais devem ser os seus. Banque a detetive!
Calculando cobranças abstratas…
As cobranças abstratas são aquelas, relacionadas à nossa arte, É aquele valor do coração, sabe? <3 Podemos colocar nesta conta várias nuances:
Design:
Aquela ideia que é só sua, um modelo ou bordado que você criou, aquela tendência que resultou em um valor de exclusividade para a sua cliente, que foi a mais bem vestida da festa. Isso tem valor e deve ser cobrado!
Experiência:
O valor de ter visto e vivido muitas coisas enriquece qualquer profissional! Projetos complicados, saber trabalhar com tecido chato, conseguir disfarçar a barriguinha da cliente, e tudo isso com acabamentos perfeitos. Quanto mais experiente for a costureira, mais valor deve ser agregado à peça.
Capacitação:
Entra para esta conta todos aqueles cursos, instituições de ensino, horas de videoaulas assistidas… Se por acaso trabalhamos em alguma empresa de um nicho muito diferente ou qualquer capacitação exclusiva que tenhamos adquirido durante a vida, isso deve elevar nosso valor de mercado.
Histórico de sucesso:
Ter feito um vestido de noiva lindíssimo já é bom, mas imagina ter feito um vestido de noiva para uma grávida de oito meses? Toda costureira ou bordadeira tem que gostar de fotografar, sabia? Depois colar nas paredes do atelier e divulgar nas redes sociais! Vejo um monte de profissionais que não registram seus trabalhos e perdem a oportunidade de mostrar para seus clientes que com todo aquele histórico de sucesso é possível cobrar mais!
A procura pelo seu trabalho:
Se seu tempo de trabalho é disputado a tapa pelas suas clientes e sua agenda vive fechada de encomendas por meses antes, já dá para cobrar mais por isso! Desde que não seja porque você cobra preço de banana pelas peças, hein?!
Ramo de atuação:
Alguns ramos de moda permitem que a cobrança seja um pouco mais alta, como peças de moda festa ou moda noiva, assim como roupas plus size ou qualquer vestimenta que pertença a um nicho pouco atendido pelo mercado de moda. Por outro lado, existem alguns ramos de atuação que nos limitam de lucrar tanto, como é o caso das roupas de “modinha”, que são próprias para o uso cotidiano e atendem a um público de baixa renda.
Poder aquisitivo do cliente:
O perfil do seu cliente vai depender de diversos fatores como a localidade onde atua, o ramo, a exclusividade de seus serviços e muito mais. O que sabemos é que cliente com mais dinheiro nos paga melhor individualmente! Já os clientes de baixo poder aquisitivo podem ser encarados pela quantidade, já que, quanto mais vendermos para eles, mais acumularemos nosso lucro.
Estrutura:
Um dos tópicos que mais agrega valor de cobrança aos nossos serviços, porém, muitas vezes, é negligenciado. A estrutura se refere àquele atelier com um sofá confortável para receber o cliente, um cafezinho, caixas organizadas, um provador, espelho e limpeza. Isso faz a diferença! Sem falar em uma agenda bem organizada, contrato de prestação de serviço, formas de pagamentos, nota fiscal. Sem amadorismo!
Realização:
Essa é a cobrança abstrata sem limites para conquistar. Aquela curva da realização do tamanho do sonho de cada um! Idealize um alvo de conquista para sua profissão, imagine o quanto deseja ganhar no futuro, empreenda seus objetivos e viabilize os projetos. Seus clientes vão evoluir com seu crescimento e você poderá lucrar mais.
Chegando ao valor final…
Cada pessoa poderá incluir nesta lista outros itens que desejar e repassar este valor para seus clientes, assim como qualquer outra cobrança concreta que queira acrescentar para se chegar a tão desejada tabela de valores do atelier. Mas, afinal, como é que se faz isso na prática?! Temos que achar o valor da cobrança concreta de cada peça e juntar com o valor da cobrança abstrata. Vejamos um exemplo:
“Digamos que uma cliente tenha encomendado um vestido tubinho preto. Um clássico com decote canoa, fenda na parte traseira e zíper invisível nas costas. Lindíssimo”!
Por hora de trabalho:
Eu criei o costume de cronometrar quanto tempo levo para fazer determinada peça dentro do meu atelier e anotar. Deixe um caderninho do seu lado e anote tudo de cada processo em cada peça. Dentro de pouco tempo qualquer uma de nós consegue acumular um bom banco de dados. Enfim, suponhamos que eu leve 6 horas na confecção total do vestido, sabendo que minha hora vale R$ 8, 83 é só multiplicar por 6, que acharemos R$ 52,98: já temos nosso primeiro valor.
Pelo material:
Fui lá no site da Maximus, comprei 1,5 m de Gabardine e de Cetim para o forro, mais um zíper invisível e o frete, que juntos somaram R$ 95,80 de custo de material.
Gastos Fixos:
Agora, juntei todos os meus gastos fixos do mês, fiz a conta para cada hora de trabalho e achei um custo de R$ 5,25 por hora, e como levei 6 horas fazendo esta encomenda, encontrei R$ 31,50 para acrescentar a esta conta.
Localidade:
No caso do meu atelier ser em um bairro de baixa renda, não acrescentarei nenhum valor, pois sei que o poder aquisitivo de minha cliente é baixo. Porém, sendo o atelier em um bairro nobre, daria para aumentar a cobrança no preço final mais um pouquinho.
Concorrência:
Sabendo quanto minha concorrência anda cobrando para fazer este mesmo serviço por aí, vou analisar se aumento ou diminuo minha cobrança conforme for mais estratégico.
Até aqui, já temos todos os valores concretos para somar, vejam: R$ 52,98 + R$ 95,80 + RS 31,50. Igual a R$ 180,28. “Oh! Minha Nossa Senhora das Costureirinhas, mas esse valor ninguém quer pagar!”. Mas esse é o valor justo pela transformação de tecido em roupa para vestir! E considerando apenas as cobranças concretas, viu? Logo, qualquer preço abaixo deste não é nem desvalorização, é trabalhar de graça mesmo!
Agora nós vamos somar a este preço todas as cobranças abstratas pela nossa arte e só então começar a valorizar nosso trabalho! Como fica difícil mensurar valores exatos, eu acho mais fácil usar o Método da Multiplicação. Ou seja, vou multiplicando o valor das cobranças concretas até ficar satisfeita! Neste caso, R$ 180,28 multiplicado por 2 daria RS 360,56, e eu decidiria se cobraria este valor cheio ou não. Eu poderia decidir fazer um desconto e cobrar apenas R$ 300,00 ou então poderia cismar de multiplicar por 3 e cobrar R$ 540, 84, por que não?!
Siiiiiiiimmmm, eu tenho que ser realista, pois a verdade do mercado está totalmente fora disso! Mas não é porque o errado é o mais praticado que o certo deixou de ser o certo. Roupa sob medida e bordado feito à mão devem ser valorizados!
As pessoas estão se interessando mais por costura ultimamente! Na minha humilde opinião, isso é reflexo de um fast fashion cheio de roupas mal feitas, que nos deixam todas iguais, sem valorizar nosso corpo. Então, existem clientes afoitos por boas costureiras! A categoria só precisa se unir, se informar e costurar direito para que possamos ganhar mais. É o nosso momento, gente!
Espero muito que este texto sirva de informação, assim como de provocação para que reflitamos sobre nossas atitudes profissionais. A partir dos valores de Cobrança concreta, Cobrança abstrata, cronometragem e multiplicação, poderemos criar, de forma personalizada, nossa Tabela de Valores do Atelier para cada peça que costumamos fazer em nosso dia a dia, como neste exemplo:
Todos os valores considerados na tabela anterior são apenas exemplos, mas já nos ajudam a entender e montar a nossa própria tabelinha e sim, o coraçãozinho ali no tópico da valorização se fez muito necessário!
Fonte: Maximus tecidos
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